Nascidos para conviver aos pés das árvores, é como somos. Quando digo aos “pés”, viso um sentido de reverência mais do que merecido por esses seres maravilhosos, que renovam o ar, abrandam os ventos, impedem o impacto direto da chuva contra o solo e suas raízes evitam que os sedimentos solvidos pela água e empurrados pela gravidade nas encostas assoreiem os veios d’água, que como as veias e artérias, são os condutores da vida sobre o planeta. Propiciam ainda o abrigo da luz solar excessiva, dosando-a.
As crianças, seres com maior sensibilidade, conseguem abraçar uma árvore e sentir o ser vivo e majestoso que ali está. Já quando adultos, veriam a matéria-prima das indústrias de móveis e da construção civil. Crianças vêem com o coração, não com os olhos do lucro vedados por cifrões.
O ser humano necessita do azul do céu, do dourado ao nascer e avermelhado do por do sol, de ouvir o farfalhar das folhas ao vento, do murmurar do riacho por entre as pedras e de ouvir o silêncio da mata sentindo a vida a sua volta, onde aparentemente não há mais ninguém. Não somos seres do asfalto, do concreto e da fuligem. A alegria das cidades, proporcionadas pelos shoppings, restaurantes, bares e boates são artificiais e nocivas ao nosso equilíbrio existencial. As alegrias naturais dos bosques, rios, lagos, montanhas, desertos e praias, são necessárias ao nosso ser. São nessas coisas simples que estão as nossas verdades. Esses locais nos arremetem a meditar sobre o “peque-pague” da vida e, sobre o tempo que inexorável escoa por entre os nossos dedos enquanto adiamos a vida a ser vivida para logo após o próximo projeto, aquele que nos trará algum benefício financeiro do qual dependem isso e aquilo.
Não somos seres do game da sala escura e cheia de ácaros, enquanto comemos alguma coisa industrializada, sentados inertes diante dos monitores de televisão e computador. Somos seres do movimento, da canseira, do suor, das trilhas e escaladas, do nadar, remar e pedalar. Das longas caminhadas e corridas, usando ar puro e água limpa e sentindo a recompensa natural dada por nosso cérebro ao esforço do corpo. Somos programados para receber esta recompensa. Neste estilo de vida não cabem tristezas duradouras nem depressão permanente.
Seja natural, sinta o prazer de conviver com o verde. Querendo ou não, ele faz parte da sua programação mental e rejeita-lo é abrir as portas para a insatisfação, uma espécie de punição que de tão antiga parece estar inserida em nosso DNA.
As facilidades da vida moderna são bem vindas e necessárias, mas a inteligência nos diz que a escravidão de uma vida inteira é muito, pelo pouco que representa um pequeno apartamento com um condomínio perpétuo, dentro do anonimato que nos transforma em seres transparentes em meio aos demais que vivem da mesma forma. Procure parar e pensar para onde caminham 6,5 bilhões de seres humanos, sem predadores, sem planejamento familiar e sem limites, sobre um planeta cada vez mais limitado e entulhado pelos resíduos que produzimos em crescimento geométrico.
Daí, minha reverência às árvores.
Ass.: O Druida